Esse tal Funk Ostentação...

Vejo alguns jovens da periferia desesperados em busca de um lugar ao Sol.
Só quem morou ou trabalhou com esses meninos e meninas excluídos da Educação de Qualidade e, consequente, exclusão de  oportunidade no meio corporativo ou acadêmico, além da condenação à fome, consegue entender o quanto eles são verdadeiros heróis. Meio tortos é verdade, porém esse é o jeito de lutarem contra o mundo que os querem enterrar, então, se não é possível andar na yellow brick road, eles constroem atalhos, a duras penas. Passarinhos que não sabem cantar, mas emitem seus gorjeios estranhos e vencem, de forma impressionante. Os gorgeios também são bonitos, originais, espontâneos.
Esses pequenos humanos e humanas não possuem orientação, provavelmente ninguém letrado anda ao lado deles, ou quem sabe, os letrados somente andam junto para os explorar quando fazem sucesso com seus funks de gosto duvidoso (segundo a elite, mas, cujas festas bombam os tais funks) e retorno monetário certo.
Excluídos pelo nascimento, sentem necessidade de empoderamento, na forma de OSTENTAÇÃO. 
São apenas vítimas de uma sociedade cruel e desigual, lutando com garra, muita garra, às vezes bem afiadas e derramando sangue de suas almas, debochando de uma sociedade que os despreza, mas que os imita no linguajar, modos, trajes etc.
Talvez eles pudessem almejar algo mais valoroso como alguns (pouquíssimos) outros fizeram e venceram, talvez, não sei, nem todo mundo é igual. Esses gostam de música, da música da periferia, que esta ganhando o mundo.
Em 2014, o Douglas,  DG o dançarino do ESQUENTA,  tinha uma mãe valorosa e, também, teve uma excelente oportunidade e apoio de gente importante. O futuro lhe sorria, mas aí a crueldade de seu local de nascimento carregado de descaso e preconceito enviou uma bala em suas costas e ele terminou ali num buraco de onde alguns acham que ele nunca deveria ter saído.
O futuro pode ser muito curto, e o que vale é a sobrevivência, com o produto de suas mentes e de sua cultura de comunidade.
E o que fazer?
Falar mal daqueles que ousam ostentar com a pequena e atrevida cabeça escapando do buraco onde foram relegados pela sociedade e, onde quase vivem?

É como querer culpar as crianças da comunidade por serem alvejadas por balas perdidas.

.... Não sou religiosa, mas recordo Madalena e o
homem de cabelos compridos e sua fala sobre a primeira pedra....