quem não tem olhos, mata. Lucem Ferre


Qual a razão para se dizer feliz?
Em que tipo de mundo vivemos para a consciência dormir tranquila?
Somos parte de uma tribo esquizofrênica. Muitos se arrogam primogênitos de Deus, com sentimentos superiores ao do próprio Pai, donos da razão, do poder e da possessão da foice que ceifa vidas. Dividem territórios, dissipam famílias, corrompem crianças, jogam pais de família pela janela alta do desespero. Como dormir com choros de crianças nos frágeis barcos naufragando nas noites escuras dos mares continentais? Quantos braços enlaçarão a dor das mulheres despetaladas? E, minha cama confortável e indiferente aguarda meu descanso. Deito e demoro a dormir, ando em círculos mentais até de madrugada e a fome cresce, o arrasamento de florestas, a extinção das espécies... Tudo crescendo.
Eu levanto e tomo meu café quente com dores inexplicáveis de vergonha.
Dos píncaros de Nova York até o ínfimo buraco de uma favela, sempre tem a figura sinistra de um destruidor de sorriso; uma sombra nefasta da morte.
Quem tem olhos, vê. Quem não tem olhos, mata.
Não tentem me acordar para a Fé. Ela esta guardada em um cofre de tesouros ou quinquilharias dentro de mim, em algum lugar. Não se turbe vosso coração com a minha pouca fé. Não se incomodem com minhas dúvidas. Pratique, por um pouco, não ser tão importante quanto o primogênito divino, já que você não é e nem eu sou.
Almoço, aflita, com dor num músculo cheio de sangue que, outrora, significava residência do amor, mas, neste momento do tempo, vive apertado, lacerado diante de uma guerra inútil e incoerente entre residentes de um pontinho desprezível no Universo. ESTAMOS EM GUERRA. SEMPRE ESTIVEMOS.
Será que, simplesmente, não era para sermos mais felizes? E se, inexoravelmente, a humanidade continua sua caminhada em direção à morte, não seria melhor amar? Conseguiríamos? Não. Nunca.
Não é provável que sejamos à imagem e semelhança do Criador. De fato, não é possível que sejamos. 
Podemos ser Seus netos, filhos de Seu filho, aquele que Isaías chamava de "estrela da manhã" ou Lucem Ferre ou Heilel ben-shachar. 
Ah, filhos dele, podemos ser. 
É bem provável que sejamos. 
Lucem Ferre, ele sim, deve ser o pai verdadeiro da maioria dos humanos. 
        




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