Deitada nos campos de morango.

SOMENTE PARA QUEM VIAJOU NOS ANOS 70.

Nothing is real 


Deitei. Fechei os olhos. 
Uma voz suave, mas cortante me chamou.
Abri os olhos.
Um rapaz loiro, com um raio vermelho desenhado no rosto e que eu não via desde 1972, estava em cima de mim. Ele disse:
- There's a starman waiting in the sky.
- Não vamos deixa - lo esperando. Respondi.
Coloquei um vestido curto de piquê com desenho de uma margarida, lenço amarelo na cabeça, tranças no cabelo, óculos grande no rosto e minha bota branca. 
- Ready to go. 
The Starman sorriu, navegamos nas estrelas e ele revelou - me um segredo.
- Let your children lose it.
O raio vermelho de seu olho brilhou e psicodelicamente se transformou no meu mais amado modo de transporte da juventude, the yelow submarine.
- Vamos viajar? Perguntei.
- A Magical Mistery Tour.
Embarcamos no Yellowsub, como eu e minha amiga adolescente o chamávamos.
- Quero ver George. - Pedi.
- First, the King must bless us.
Uma alegria imensa penetrou meu coração quando the yellow submarine navegou nas águas do Tennessee e aportou em Memphis, no jardim da terra cheia de Graça.
E lá estava ele. 
The king. 
Nenhuma palavra foi dita. Fizemos reverência e ele tocou minha alma pedindo para ama - lo com ternura.
Respondi em pensamento - I bless the day I found You.
Fiquei ali uma eternidade.
Mas, the magical mistery tour devia continuar. 
Olhei para o Rei e implorei. - So never leave me lonely. Ele sorriu e me fez lembrar das noites que passamos juntos em meu quarto de adolescente quando ele vinha, pelo rádio, me saudar nas madrugadas solitárias do início de minha vida.
Prosseguimos. 
The bluebird veio nos levar, em suas asas, até os portões de Strawberry fields. 
Um jovem cabeludo, com óculos redondos, usando um chapéu preto passou sorrindo. Meu coração ficou apertado, ia me desequilibrando ao recordar de New York, foi aí que ouvi sua voz cantando. 
All we need is love. 

A sensação de paz e amor voltaram ao meu espírito. 
Descansei nos campos de morangos.
Fechei os olhos e entrei num cinema. Na tela passava algum filme antigo, preto e branco, não sei qual era, mas era muito romântico. Olhei ao meu lado e lá estava o meu mais querido de todos. 
Eu disse - I wanna hold your hand.
Durante séculos, ficamos, lado a lado, tocando cítara e recitando mantras, enquanto a sua guitarra chorava suavemente .
It's wonderful to be here, it's certainly a thrill.
Mas, ouvi sua voz dizendo - Sunrise doesn't last all morning - lágrimas vieram aos meus olhos e seu sorriso me contou - A cloudburst doesn't last all day 
Era chegada a hora de voltar.

Voltei. 

Passei pelo diário desbotado dos meus catorze anos e preenchi mais uma página.





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