Luzes descoloridas




 

O final da vida chegava rapidamente, mas ela já não vivia. 

Sua mente tinha se esgotado e desistido da lucidez, abandonando - a ao sabor de ligeiras recordações, navegantes solitárias, no escuro lago do Alzheimer.


Num piscar de olhos acordava e no outro já não estava mais ali. 

Observava o nada, o infinito e eterno nada.

No lusco fusco de suas lembranças surgiam imagens de sorrisos, batom vermelho e sexo prazeroso. E, num relance, via - se deitada,  o nariz impregnado do cheiro acre de remédios e velha, muito velha, bem mais velha que sua avó.
- Estou viva?

Na janela, a luz esbranquiçada do sol anunciava uma linda manhã. - Uma vontade louca de ir à praia e se juntar aos amigos. Levantava com dificuldade e a praia já não estava mais lá. Tudo escurecia. Escuridão mórbida e avassaladora. A luz se apagara em plena manhã ensolarada.

E, no outro dia ou outra semana, acordava, novamente.
- Mãe, tive um pesadelo. Eu não era mais eu. Não tinha mais minha patota. Eu estava só e triste.
Uma voz, tecnicamente, suave, respondia.
- Sou a enfermeira, querida. Não sou sua mãezinha.
Ela olhava aquela mulher vestida de branco e percebia que estava, tristemente, sozinha.
E, enquanto mergulhava, mais uma vez, no oceano escuro de sua mente, lembrou a frase de uma canção, ouvida e repetida muitas e muitas vezes.
- Help, I need somebody.
Escureceu.

DE QUEM SÃO ESSAS TRAÇAS?

O que há de anormal nas traças? Nada. 
Elas nasceram com a função de roer e é isso o que elas fazem. 
Roem e roem. 
São pragas que só sabem roer, destruir, arrasar tudo o que veem pela frente.
Insaciáveis!
Eu já vi muitas traças. Traças demais. 
Quem não as viu?
Dizem que elas atacam escolas, hospitais, caixas de remédios, depósito de alimentos, gabinetes, enfim... Onde tiver com que se locupletar elas se locupletam. 
Contam que elas vieram para cá na caravela de Cabral. Infestaram o país em pouco tempo. 
Continuam corroendo. Dá para ouvir o som, não delas, mas de suas vítimas. Do choro de suas vítimas.
Crianças choram quando são roídas pelas traças. 
Doentes choram quando são roídos pelas traças.
Pai de família chora quando é roído pela traça.
Pequenos empresários também choram. 

Ouvi por aí que senhores deitados em tronos altos sabem lidar muito bem com as traças. Eles dão dinheiro, em malas, para elas roerem.

Um povo chora por causa das traças. 
Alguns tentam exterminar essa praga, mas o problema é que um outro povo, os do bem, forma torcida organizada a favor das Traças, e, então essas torcidas direcionam o melhor lugar para as traças se alimentarem. No entanto, os mais frágeis dessas torcidas nem percebem que são o alimento preferido a ser roído. Nossa! Como endeusam essas traças! Até inventam "nominhos" bonitinhos para definir suas traças, como por exemplo: tracionário, Milhitraça, traxinha do papai e assim por diante, desta forma, com tanta criatividade e embates pífios nas redes sociais, todo mundo se diverte de tanto ódio e esquecem as traças roendo suas bundas. 
E as Traças? As traças não ligam para ninguém, elas só pensam na barriga delas e continuam roendo roendo roendo. 

Quem é culpado pelas traças?
Eu não sei, mas estou para acreditar que em 1.500, na nave de Cabral, essas traças começaram a manipular o DNA dos futuros povoadores da Terra de Vera Cruz, acrescentando uma quinta base hidrogenada ao mesmo. Desta forma, os veracruzenses, além de adenina, citosina, guanina, timina em seus ácidos desoxirribonucleicos, foram inoculados com a destruidora tracianina (desonestus sacaneadores dus bolsus alheius. Politicus corruptus, fedaputis)

Simplificando: roer o próximo faz parte da origem de nosso antigos veracruzenses, atuais brasileiros da patria amada.




O amor que fiz ou sonhei ter feito.


ESSA NOITE VOCÊ VAI TER QUE SER MINHA.
                                                                 

Sim. Esta noite você vai ter que ser minha, música de Odair José.

Existe algo nas músicas populares que remetem a sedução, ao desejo intenso, vontade de se apaixonar, de se entregar com amor e paixão.

Essa música me remete à sobressaltada transição de minha adolescência para a juventude nos incríveis anos 70.

Nunca fui normal ou talvez fosse, mas eu me sentia um peixe grande demais para o lago de minha vida e, às vezes, um enfeite num aquário qualquer.  

Eu queria tanto que alguém me quisesse na mesma intensidade que sentia de me entregar, quando ouvia essa música. Talvez, um príncipe roqueiro ou alguém parecido com o George Harrison.

Idealizava. Ainda idealizo, um moço cabeludo ou de cabelo sem pentear, magro, sorriso largo, que me olhasse nos olhos, guardasse a guitarra e dissesse: 

Quero ver no seu rosto o meu sorriso alegre.
Então, o sorriso brotaria de nossos lábios... E eu... completamente envolvida... apaixonada mesmo, com o coração batendo forte dentro do peito, responderia quase num soluço: 

Quero esquecer da vida pra viver o amor.
Emocionados, respirando o mesmo ar. Suspirando, como há muito quase ninguém suspira. Aquele suspiro fundo, quase dolorido, de quando o sexo era um acontecimento sagrado, bem antes de se tornar, apenas, mais uma transa com a banal finalidade de diminuir o estresse.
Ao tocar minha pele, por baixo da minha bata branca de rendas, eu desviaria o olhar, tímida e ansiando, silenciosamente. pelo amor.
Falaria, tolamente, que ...
lá fora a chuva tá caindo e não vai parar.

Ele tomaria meu rosto em suas mãos, me encheria de beijos, mordendo meus lábios e, num sussurro, diria: 
Minha vida pode ter fim quando o dia chegar, mas que importa, se hoje, estou com você e te amo tanto.

Eu fecharia sua boca com um roçar de meus lábios e o deixaria livre: Não precisa dizer nada pra não se arrepender, tem certos momentos na vida que o silêncio é melhor.

Um tanto melancólica, pois estava liberando – o dos dias seguintes, os quais eu esperava passar ao seu lado. Olharíamos a chuva caindo.
Nicole! Olhe pra mim. Esqueça que a chuva lá fora ainda não parou. Peça pra que o dia não chegue, pois você me encontrou.

Olho no olho, batimentos igualados, suor escorrendo do desejo, sobrecarregados de amor ofegante, um beijo ávido por entrelaçar corpo e alma, ele, finalmente, diria: 
Essa noite você vai ter que ser minha.

Separando os lábios molhados, facilitando para a retirada da minha blusa e sua camiseta, perdidamente apaixonada, eu gemeria baixo em seus ouvidos:
Esta noite vai ser feita pra nós dois, nem que seja dessa vez e nunca mais, só não quero deixar nada pra depois.

E, começaria o amor.






Queria ter sido um dos Beatles








Bem, que eu queria ter sido um dos Beatles.

Seria incrível dar aquele gritinho do Paul McCartney? Hey Jude, Jude, Jude wow!

Ou ser a Les Paul dedilhada por George em Something.

OU

ter cantado, pelo menos, aquele trechinho: Get Back, Joe!

tocar o violão do George na introdução de And I love her.

Cantar Obladi Obladá com o John

Tocar junto com Ringo a música She said she said. 

.... tantos motivos para ser um Beatle....

    

E o John casou com a Yoko, aí ele morreu, ela ficou viva... até hoje!

E, a Linda Eastman McCartney deveria estar viva até hoje. Vegana, hippie de alma... 

E, o Ringo continua com suas baquetas e batidas diferenciadas.

E o George morreu muito, muito, muito cedo.

Ainda bem que tive tempo de viver para ver e ouvir e gostar dos Beatles.






I thank you.



Somethings about George Harrison in my life... so unfair....





The dream ended a long time ago

I see you in the video....
mas o vídeo é apenas uma lembrança.


Uma imagem...
Uma foto...
Um video...

Mas não É.
Não existe, não mais, nunca mais.

Abstrata é a vida, por mais que pareça sólida.
Nem a rocha é sólida. Nem a água é liquida.
O sonho é abstrato?
O sonho é concreto. Tão concreto que dói sonhar.
É apenas um desejo, uma vontade?
E SE FOR, APENAS, UM PULSAR?
Por quê nascer pra depois... nada?

WHY?
A resposta soa em meu ouvido
Ended up!

A vida existe por alguns instantes e, depois, nunca mais. Como você cantou, eu creio,
we're live in a bad dream.

Você não existe. Nunca existiu.
Tudo passa, tudo se acaba.
Uma noite fria e cinzenta pode durar uma vida toda. O amanhecer não dura o dia inteiro. O amanhecer já se foi, mas, eu acho que it´s always going to be this grey 

Li e ouvi você cantar que All things must pass away, mas eu não queria que você fosse embora.
Você não podia ter se tornado apenas uma imagem.

In my teenage dreams, you would handle me with care.

Deep in the darkest night

I send out a prayer to you

Now in the world of light

Where the spirit free of lies
And all else that we despised

SO UNFAIR...

EU NÃO SOU O QUE VOCÊ PENSA.



Todo mundo fala. Fala e fala.
Você é assim, desse jeito ou daquele outro jeito.
Pensam isso e aquilo a meu respeito. Ou nem se dão ao trabalho de pensar a meu respeito.
Ou nem respeitam ou respeitam de qualquer jeito.
Mas, eu não sou o que você pensa! 

Vivo normotensa. 
Sou hipotensa. Desmaio fácil. Morro mais fácil ainda, mas dizem que sou uma pessoa difícil. Incoerente. Eu não sei. Sempre me achei dócil e carente. 
E transparente, tão transparente que, penso que sou, mesmo, transparente.
Ninguém me olha, e se olha não me vê. E, quando vê, vai embora. 

Sou semissonora.
Sou sempre semi, se fosse uma guitarra, seria uma semi - acústica. Nem sólida nem acústica. Semi - sólida. Boa para Jazz e blues, sem microfonia. O meio termo da alegria. 

A alegria do Jazz e nostalgia do Blues. Sendo assim, tá bom.  E, como dizíamos... tá tudo azul. 




Fragmentos de mim.



Esse é só um espaço, como se fosse um diário, 
e eu não me importo em deixar suas páginas abertas.
Não há Segredo objetivo, mas Subjetivo
Se quiser fazer um esforço, leia observando. 
Se não, deixa pra lá.

Em um diário, só se escreve o que se pensa.

A verdade íntima.
Se é assim, aqui? É.

Todos os dias, escrevo um pouco. Deixo em rascunho. Deixo o texto "dormir". Aí, um dia, abro e, talvez publique.

Minhas verdades (ou quase):

Sou uma pessoa difícil, comigo. Quase intransigente. 
Não gosto do que escrevo.
Não gosto do meu jeito.
Não gosto de mim
Eu me afasto de todo mundo. 
Não confio em mim como ser amado.
Não acredito quando dizem que me amam.
Não acredito quando amigos dizem que gostam de mim. 

Sim. Tenho traumas.
Tenho um transtorno causado por traumas.
Traumas, dos quais, nada me lembro.


Não tenho coragem de revelar qual é o transtorno. 
Por isso me afasto de todos.
Só me encontro com amigos quando trabalhamos juntos.


Tenho vergonha desse transtorno.
Não há porque me envergonhar. 

Sou uma pessoa boa, não acho, eu sou.
Tenho orgulho do meu caráter.

Apesar do transtorno.

 

Sou inteligente e sei disso.

Apesar do transtorno.

Sei que ninguém gosta de mim, eu acho. Não tenho certeza.
Tudo é minha culpa, eu sinto. Não tenho certeza.
Sou odiada por todo mundo. Sei que não é verdade. Mas, eu sinto.
Todos me julgam. Não é verdade. Mas, eu sinto.

 

Eu não sei quem eu sou.

Isso é transtorno. 


Ainda tenho 17 anos. Não é transtorno, apesar do transtorno. Tenho 17 anos. Minha alma tem 17 anos; Tenho 30, 12, 43 e por aí vão os anos.

SOU FRAGMENTOS DE MIM.

 


Dom Quixote e Zaratustra


Não sou romântica, consequentemente não sou sentimental ou por não ser sentimental, não sou romântica.
Meu signo é Touro, mas não acredito em signos. E, isso não tem relevância nenhuma nem relação com o texto abaixo. 




DOM QUIXOTE E ZARATUSTRA
Tão diferentes, tão iguais. 
(É só minha opinião e nem é importante).

A Realidade mais clara e cruel, bem ao estilo Nietzsche, me satisfaz quase como uma refeição pesada, mas saborosa. 
Dom Quixote é a sobremesa amarga que vem em compotas adocicadas, fingidas de açucares e cores.

Meus olhos pequenos se apertam mais ainda quando vejo sonhadores errantes. - Dom Quixote é o mais fantástico sonhador que me toca a alma, pois ele era corajoso, mas temerário. Sonhou o impossível e acreditou mais na Quimera do que em seu oposto. No entanto, Dom Quixote me diverte com suas buscas ensandecidas por um Rumo, um Motivo (Exatamente como eu).

Humano, Dom Quixote é demasiadamente humano. 

Ah, mas Zaratustra é apaixonante.

Zaratustra é língua de fogo devorando os insensatos.

São dois sonhos febris, o sonho de Quixote e o de Zaratustra.

 O primeiro me encanta e eu o sigo em sua alucinante viagem do
 nada para o nada, exatamente como a mundanidade. 

O segundo me toma pelos cabelos e beija minha boca, me conquista na marra. 
Eu queria ter sido Lou Salomé. 
Queria ver de perto o louco mais são que já andou por este planeta. 

Eu queria ter sido Sancho e viajado com o sonhador mais realista que navegou pelas terras espanholas do mundo.

Detesto minhas filosofices.

Vida Estúpida.


Quem nunca se sentiu à parte da vida? 

Quem, algum dia, não sentiu vontade de voltar para algum lugar não se sabe aonde? 

Um sentimento de orfandade, de exilado, costuma invadir nossas horas noturnas, quando, 
sem razão ou com razão, 
divagamos, 
soturnamente, nos meandros de nossas mentes. 

A frieza de um apartamento, às escuras. 

(Lá fora) 
Todos dormem, menos você. 
Todos sorriem. 
Todos estão confortáveis, muitos tomam cerveja, menos você.
Menos você.

Nada parece real. Somente seu pensamento melancólico é real. 

Maldade de nossa mente. 
Por que lutamos tanto, contra nós mesmos? 
Por que gostamos, tanto, de sofrer?  
Às vezes, parece que temos um predador cruel que nos ataca de dentro pra fora, fazendo um inferno em nossas vidas. Esse predador ruge alto dentro de nossa cabeça e, então, rugimos com quem amamos ou com o primeiro infeliz que cruzar nossa frente. Esse inimigo tira de nossas mãos a direção de nossa vida. E, magoamos quem nos quer bem.   
E fechamos portas, estupidamente. 

Fazemos merda, muita merda. Merda é o termo mais usado neste novo milênio, milênio que já tem + de 20 anos. 

Desgostar significa deixar de gostar. E, percebemos, que não nos gostamos, nós, muitas vezes nos desgostamos e nem percebemos. 

Sempre achamos um futuro que nos trará alegria e sucesso, então, andamos, olhando para esse futuro, mas existe somente o presente e o presente é feito água, sem cor. Sem Sabor. 
Desprezamos,
desgostamos do que é insípido e incolor.

Voltando à merda. Por que esse é o termo e emoji tão usado no presente?
Porque achamos o presente uma merda?
Por que não somos felizes?
Alguém sabe a resposta? Eu vou dizer:
- eu também não sei.
Não há uma resposta. 
Sei que há uma vida a ser vivida, mas que raio significa vida a ser vivida? Como podemos viver uma vida e, ao mesmo tempo, manter a alegria? Eu não sei. Não sou coach, nem mestre zen-budista, nem conselheira e nem influencer. Não sou nem otimista. Eu gosto de rock. Rock clássico, mas isso não significa nada. Só que tenho bom gosto musical... pelo menos, pra mim. 

Que vida é essa que tem de ser vivida? Se todo dia é congestionamento, vizinho, síndico, morte de nossos ídolos, maus-tratos de animais, Datena na TV, esmalte que borra, coceira no saco... A vida, a vida... 
A vida onde não há vida. 

E pra encerrar, vou dizer que não tenho nada bombástico pra concluir, nem positivo e nem nada que mude sua vida após ler isso aqui.

Alguém aceita um copo d’agua?

Tortura, dor e pesos.


quadro "Cais da Barca" do pintor Caru.


A barca parada no caís aguarda nosso embarque. Alguns não embarcarão, preferem o conforto da pescaria.
Outros, anseiam.
 
Quando um esperto ledor de tarot ou coisas semelhantes, deseja conquistar e adquirir a confiança do outro, imediatamente, ele diz: você já sofreu muito na vida! Esse bordão arrebenta dores represadas do passado e ao invés do tarólogo, advinho, bispo ou sei lá mais quem, falar sobre suas adversidades, as sua lágrimas irão caindo enquanto diz - Sim, sou uma vítima desde a infância disso ou daquilo...

ISSO É CHATO!

Você é chato e se deixa manipular em seus sentimentos, enchendo o ouvido do esperto à sua frente e pagando pela consulta, trabalho, oração e dízimos.
Não alegue que a culpa é do outro! A culpa sempre, mesmo se for culpa do outro, é sua.  
Não deixe de carregar a mala pesada e inútil da culpa.

Se você é feliz desse jeito, sendo infeliz,
pois viva bem, é comôdo.
 
Um dia, 
a vida severa, 
vem 
e abre 
as páginas 
do livro 
de sua vida e você não mais se sentirá culpado, mas, responsável. 
É muito mais profícuo ser responsável do que franzir as sobrancelhas, decair os lábios e chorar injustiça do outro, do mundo, de todo o mundo. 

A natureza e a vida humana são cruas, viscerais, no entanto, se amoldam aos sentimentos de cada um. 

Se quer ter equilibrio, terá. Se quiser sofrer, sofra.
MENTIRA!!!!!!

Tem gente que não tem equilíbrio para não sofrer, 
que não sabe o que é alegria, 
que não consegue ser feliz, 
não consegue, não sabe, não consegue.

TEM GENTE QUE TEM SORTE. Tem aqueles que não tem. 

Como limpar a alma da tortura mental?
Como ser livre de pesos que querem que você carregue. Não se esqueça dos pesos que você nem sabe que existem, nem porquê os carrega.

A vida nunca foi fácil nem justa.


Sobre Fé, influencer, dinheiro e autoajuda



 Livros de autoajuda, em geral, tentam conduzir sua vida para a felicidade plena, saúde plena e realização sexual plena.

Essa plenitude é real? É irreal? 
O que somos, segundo a tal Autoajuda? 
Seres imperfeitos que podem se transformar em seres perfeitos. 
Que bom! Encontraram a fonte da juventude e felicidade eterna!
Vendem o Santo Graal da perfeição. 
Somos tudo que quisermos ser. 
Nossa! 

Basta ser otimista, recitar palavras positivas, sorrir e focar em dinheiro.
Ah, e pagar os cursos que, segundo os coachs ou influencers ou seja lá o nome que inventaram e inventarão, devem e têm de ser caros.
Por quê?
Porquê não há preço alto o suficiente para a compra da Felicidade Eterna aqui na Terra.

(Na Idade Média, entre os anos de 1506 a 1626, durante a construção da Basílica de São Pedro, que acabou originando o Estado do Vaticano, ocorreu uma espécie de Auto Ajuda Espiritual; a venda de indulgências. Por algum dinheiro doado pelos fiés ricos e pobres e paupérrimos, comprava - se o perdão de todos os pecados, remotos ou recentes, e, com um pouco mais de dinheiro, adquiria - se um terreno no céu. Certamente, esse céu era reservado para quem podia dar um lance maior, e, no céu vendido pelos sacerdotes,  não entrava pobres nem miseráveis.)

A fé não deveria ser uma arma, mas é. 
A fé ganha milhões. Compra milhões. Vende milhões. 
And the money kept rolling in from every side, 
já dizia Andrew Loyd Weber, mostrando a fé cega em dinheiro. E, 
mais tarde, Miltom Nascimento e Beto Guedes diriam 
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada.

Então, daqui de meu quarto, onde escrevo, ao lado do Dr Sheldon Cooper, meu cão vira lata, ouço uma voz digna de esquizofrenia: heresia! Sem fé não se vive!

- Não discuto com minhas suposições negativas, nem com as positivas, nem com nenhum pensamento invasor. Duvido de meus pensamentos, esqueço deles durante à noite, reflito melhor quando os calo.
Então, se não discuto com meus pensamentos, imagine se iria discutir com os alheios. 
Olho para meu cachorro que dorme sem nenhum peso na consciência.

O pensamento parece uma coisa à toa, mas como a gente voa quando começa a pensar. 
Cantava um triste e lamentoso Lupicínio Rodrigues. Esse voo  singelo lupiciniano  é o voo em busca da felicidade perdida. Melancólico, poético.
Mas, existe um opressor voo do pensamento, que nada tem de poético. É o pensamento repetitivo e incômodo, aquele que vem e vem e nunca vai. Tenta - se esquecer desse pensamento, mas ele volta, volta e repete e repete e quase enlouquece. A Fé pode abafar esse tormentoso e reiterado pensar. Nossas cabeças pensam estar aliviadas, mas é, somente, um desvio de atenção, uma tentativa, eufórica, de felicidade, a inútil busca da mens sana. Se a fé religiosa não responde nem estanca essa enxurrada de pensares e a fim de mostrar um patamar mais alto de sapiência, as hostes recorrem  à auto - ajuda. Correndo atrás de profetas influencers, se lançam em cursos, palestras e colecionam livros comprados nas prateleiras mais altas das livrarias, embora de nichos ao rés do chão de biblioteca e, depois, replicam em frases, supostamente, inteligentes em redes sociais. 

..... Mas, sua vida não muda, a tristeza não sai, a insatisfação cresce, o emprego nem sempre vem. Os sonhos vão se perdendo na rolança do tempo e, no ato final do Teatro Terra, podem ser conformados ou amargurados.... 


Qual a solução?
Eu não sei, mas aceito a vida como uma loucura incompreensível.  E não aceito que a tal Auto Ajuda demente cresça, como um fantasma assustador, dizendo que eu devo pensar em dinheiro na hora de acordar, ne hora de almoçar, na hora de dormir...

Não quero apontar um Jaguar na rua e dizer que é MEU.  Não é meu, é do dono. Nem quero frequentar sessões religiosas onde exijo de Deus o meu quinhãozÃO.

A melhor solução de sua vida não serve pra mim.
A melhor solução da minha vida não serve pra você.
A MELHOR SOLUÇÃO DA VIDA DE OUTROS PODE SER TE ENROLAR.

Não se angustie com tantos "vencedores". Pode ter certeza, eles  não são tão felizes como parecem.

FILOSOFIA DE FILÓSOFOS 
(filósofos filósofos e não qualquer ruminante que pensa ser um.) Pode ajudar e ajuda, sim. 
Mas, pode te despertar e fazer sofrer quando te mostrarem a verdadeira realidade. 

Nietzsche - Uma simples visão de iniciante."Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você." Friedrich Nietzsche


Nietzsche penetra em mim e eu sinto, mas falta muito para sair do sentido e cavalgar na razão.
Não o compreendo, mas me arrebata. Causa vertigem e ansiedade.
Consigo apenas escrever, de maneira muito simplista.

 "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você."
     Friedrich Nietzsche


Li tanto Friedrich que me senti tão amiga dele,  que.... resolvi escrever essa crônica, esse conto... essas desprentesiosas palavras escritas, mesmo sabendo que o que ele disse, deve ser algo bem distante do que escrevo, abaixo.Enfim... o blog é meu, os pensamentos são meus e, apenas, amo Nietsche, na distância da rolança dos tempos e de sabedoria.  

ENTREI EM UM MUNDO ESTRANHO.

Na beira do abismo, sempre andei. E, certo dia ou noite, não sei ao certo, eu desafiei e olhei para baixo. 

OLHEI PARA O ABISMO.
Aos poucos, das trevas abissais, foram surgindo dois olhos sem brilho e nem cor. Apenas olhos que me olhavam de volta. Olhos inertes, sem vida, porém, perigosamente, mortais. 
O abismo me olhava de volta e estremeci.
QUEM ME OLHAVA LÁ DE DENTRO?
Era o abismo ou era eu?
Tentei desviar meu olhar para o utópico céu, eternamente azul e perfeito, mas algo se mexeu dentro das profundidades escuras e sibilantes. Tive de retornar as vistas ao poço de breu.
Havia vida no abismo? Sim, havia vida se esvaindo nas profundezas.
Que vida era essa? Era a minha? Era de estranhos? Era, apenas, vida desassossegada, impenetrável e vencida. 
Eram meus olhos sofridos e angustiados inquirindo minhas dúvidas, incertezas e crenças. Era eu mesma que me olhava, que me atraia para o fundo, para a anulação de mim mesma. Era a jovem que fez escolhas, que reprimira seus desejos, sua inteligência e sua vida por ser servil e obediente aos murmúrios externos. Era uma vida escravizada, padronizada. E, das sombras, cresceram monstros e eu os vi, reagi e lutei. Combati os monstros e suas sombras colossais. 
Por muito tempo, fixei minhas vistas no abismo, porém, por pouco tempo lutei contra as sombras de monstros. 
Fiquei inconsciente, o nada me invadiu, despertei com a descrença sutil batendo feito um martelo. Quis subir para o patamar mais alto. Vi a morte do meu passado covarde. Não me amedrontei. 
Sei que o abismo existe e eu existo, mas também não sei. Não me importo e me importo.
Retornei do abismo. Não sei se retornei. Sei que irei retornar. 
Os monstros existem, mas são dissipáveis. 
Eterna luta. Eterno retorno. Eterna vida.


Loucura ou realidade? O que é mais insano? 






O começo do Fim

Li e vi, durante toda minha vida
histórias com fins trágicos, terríveis e melancólicos.
 
A vida é terrível, melancólica e feita de tragédias.
Muitos tentam florear. 

Criam Livros e livros para explicar. 
Inventam Deus e deuses para justificar o fato de estar perdido num ponto minúsculo do Cosmo.

Querem crer porque não possuem fé. Querem ter fé porque não creem.

Avalanche de dores seculares sem resposta, sem explicação.
Seres soltos no ar e presos na lama. 


Evoluir biologicamente é demorado demais, concluem. A mágica da criação e suas grandiosidades
parecem ser muito mais interessante, estimulante e empresta um ar de grandes coisas.

Somos lodo! - Gritam uns.
- Apenas moléculas reunidas - proclamam outros. 
- Somos o centro do Universo - Falam os perigosos ingênuos. 
O eterno embate prossegue com gritos, pedras polidas, machados, flechas, clava, punhais, trabucos, pistolas, fuzis, metralhadoras, bombas, palavras, marketing, políticos, calúnias, internet, fake news ...... 


Eu só quero
ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer
Disse o sábio Peninha em 1979.
Acho que ele não achou 
a tal casinha
Nem eu.
Fim
E esse é um trágico, terrível e melancólico final.