Luzes descoloridas




 

O final da vida chegava rapidamente, mas ela já não vivia. 

Sua mente tinha se esgotado e desistido da lucidez, abandonando - a ao sabor de ligeiras recordações, navegantes solitárias, no escuro lago do Alzheimer.


Num piscar de olhos acordava e no outro já não estava mais ali. 

Observava o nada, o infinito e eterno nada.

No lusco fusco de suas lembranças surgiam imagens de sorrisos, batom vermelho e sexo prazeroso. E, num relance, via - se deitada,  o nariz impregnado do cheiro acre de remédios e velha, muito velha, bem mais velha que sua avó.
- Estou viva?

Na janela, a luz esbranquiçada do sol anunciava uma linda manhã. - Uma vontade louca de ir à praia e se juntar aos amigos. Levantava com dificuldade e a praia já não estava mais lá. Tudo escurecia. Escuridão mórbida e avassaladora. A luz se apagara em plena manhã ensolarada.

E, no outro dia ou outra semana, acordava, novamente.
- Mãe, tive um pesadelo. Eu não era mais eu. Não tinha mais minha patota. Eu estava só e triste.
Uma voz, tecnicamente, suave, respondia.
- Sou a enfermeira, querida. Não sou sua mãezinha.
Ela olhava aquela mulher vestida de branco e percebia que estava, tristemente, sozinha.
E, enquanto mergulhava, mais uma vez, no oceano escuro de sua mente, lembrou a frase de uma canção, ouvida e repetida muitas e muitas vezes.
- Help, I need somebody.
Escureceu.

4 comentários:

  1. Oi! Tudo bem? Muito raro encontrar alguém que ainda publique em blogs. Você é uma das atrizes que mais admirei, tanto pelo talento quanto pela beleza. Há a possibilidade de falar com você?

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  2. Amei descobrir seu blog! Amei descobrir, no Twitter, a pessoa acessível e agradável que você é! Obrigado!

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